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LONGA É A ARTE, TÃO BREVE A VIDA

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Flores, de Alberto Nicolau.

Série Primavera Brasileira
Em um praça pública destinada às artes, o pintor disse para todos que ali estavam:
- Não acreditem que minha arte se apresente como a verdade absoluta e inquestionável.
Um observador atento que estava nas imediações indagou:
- Terá uma obra de arte a meia verdade apresentada sob as tintas, mármores ou bronzes?
E o pintor completou:
- Não creiam que ela virá para ser enaltecida e bajulada, pois é justamente o contrário. Ela trará indagações e desavenças, porque os homens não terão me compreendido ou não quiseram compreendê-la.
- O que vê por aqui? - perguntou o pintor ao homem.
- Os artistas e suas obras - respondeu prontamente o observador.
- E todos estão diferenciados por suas estéticas próprias, disse-lhe. E produzirão obras e mais obras e as tornarão públicas, e as discórdias reinarão sobre nós, pois um se dirá mais apto para produzir o belo e o verdadeiro que o outro.
O homem pensou por alguns instantes e interrogou o pintor mais uma vez:
- O que traz de especial para nós?
O pintor respondeu-lhe:
- Vim trazer as tintas às telas para dizer em língua diferente das dos homens sobre os enganos e todas as aversões sobre as raças, da mesma forma que o escultor traz a ferramenta às pedras e bronzes, e tenho urgência para que minha arte comece a purificar a mente e o coração dos tolos e rudes. Então, quando minhas obras estiverem preparadas, eu também as tornarei públicas para que ninguém permaneça na decadência e na inutilidade dos atos pecaminosos e sem frutos sadios. Todos perceberão que não vim trazer nenhum conceito particular de beleza e de verdade, mas sim o que se poderia tornar belo e verdadeiro diante daqueles que só promovem guerras e destruições tanto interiores quanto exteriores.
O observador escolheu uma obra, pagou por ela e sem tirar os olhos e o pensamento de sua aquisição sumiu entre os demais que ali estavam.


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